quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Reflexões Sobre Crochê e Aprendizado

 O crochê é uma técnica de criação de tecidos através do uso de uma agulha com gancho em uma extremidade e o uso de linha contínua, formando os mais diversos padrões, seja para toalhas, caminhos de mesa, roupas e até mesmo pelúcias, os conhecidos amigurumis.

 

(imagens: Casa Vogue / WikKow / AmiguNatis)

Como todo processo de aprendizagem, o crochê pede que haja dedicação, treino, busca por referências, atenção, dentre outros. É recorrente que um artesão iniciante precise desmanchar seu trabalho ao longo de diversas etapas do processo para que o resultado seja conforme o esperado. Repetição é, em consenso, uma das formas de aprendizagem, tendo esta, várias outras facetas que podem ser atribuídas a este fenômeno.

Para a Análise do Comportamento, aprendizagem pode ser entendida como uma ocorrência, um evento que acontece na presença de contingências que a favorece, sendo vista principalmente quando nós conseguidos observar que o indivíduo está emitindo um comportamento novo, que antes de certos eventos, não era possível.

Tomando o crochê como exemplo, o comportamento de manipular linha e agulha não é algo que nasce conosco, portanto, quando vemos alguém iniciando neste hobbie/trabalho, vemos que é comum a pessoa fazer diversas correntinhas em sequência com certa lentidão,  pois aprendeu recentemente como apoiar os materiais na mão e realizar o movimento. Conforme a pessoa se coloca em situações onde precisa aprender um ponto novo,  uma regra de aumento, ou redução de pontos, torna-se visível que o aprendizado está ocorrendo para o comportamento de fazer crochê.

Como vemos no livro Fundamentos de Psicologia: Temas Clássicos da Psicologia Sob a Ótica  da Análise do Comportamento ( Hübner & Moreira, 2022), reconhecer ou não algo como aprendizagem depende de se considerar o estado presente de algum aspecto do comportamento de uma pessoa em comparação com seu estado anterior. Entendemos então que é uma demonstração  de um comportamento novo ou modificado.

No entanto, não é qualquer modificação no comportamento que podemos considerar como aprendizagem, é necessario que as mudanças na relação de um organismo perante seu ambiente sejam, duradouras, não se restringindo à somente um evento. É necessário que também haja sensibilização e habituação do indivíduo, ou seja, ele deve ser capaz de responder aos estímulos semelhantes àquele que originou, ou modificou o comportamento que está sendo observado.

Diferentemente do que muitos acreditam, os processos de aprendizagem nem sempre terão um caráter linear crescente, como no exemplo gráfico da figura 01, tendo um caráter muito mais inconstante a depender dos eventos relacionados ao comportamento de aprender, conforme figura 02
 




Portanto, é plenamente possível que uma crocheteira experiente precise desmanchar fileiras de pontos para refazer parte de sua peça a depender dos eventos ambientais que podem interferir em seu trabalho, não sendo necessariamente pelos mesmos eventos que uma crocheteira iniciante desmancharia partes de sua peça.

Considerando que, para que a aprendizagem ocorra, o indivíduo precisa ter condições de entrar em contato com os estímulos do ambiente, é plenamente possível que qualquer pessoa aprenda coisas novas, independente da idade, em ritmos diferentes.




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Referências:
HÜBNER, Maria Martha Costa. MOREIRA, Márcio Borges. Fundamentos de Psicologia: Temas Clássicos da Psicologia Sob a Ótica  da Análise do Comportamento. 8ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara. 2022.


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