Oilá!
Como vai você?
Há algumas semanas encontrei uma publicação sugerida pelo Facebook sobre Lacrimatórios da era Vitoriana (1837-1901), nela a escritora alegava que os lacrimatórios eram frascos de vidro ricamente decorados onde se coletavam as lágrimas dos enlutados logo após a perda de um familiar, depois tampava-se o frasco com uma rolha especial e, assim que as lágrimas secassem, o luto teria passado.
Como muitas antiguidades e costumes curiosos no século XIX, esses coletores de lágrimas eram atribuídos à costumes romanos, mas por muito pouco não alegaram serem originários do antigo Egito.
Pesquisas mais sérias indicam que, os tais lacrimatórios, sejam romanos, ou vitorianos, na verdade, eram frascos para armazenamento e transporte de óleos e unguentos para ritos fúnebres.
A ideia central aqui não é argumentar sobre o objeto, mas sim articular sobre como a humanidade, em diversas épocas e locais, elaboraram formas interessantes de lidar com a partida daqueles que são queridos e o que podemos fazer enquanto quem aqui ficou.
Há diversos costumes e crenças ao redor do mundo que consideram a morte como uma passagem para outro aspecto da vida, sendo esta algo além do corpo físico, para além de tudo que podemos ver e tocar.
Sempre ouviu-se sobre as festas fartas em países da Àsia, os funerais regados a comidas e bebidas em filmes estadunidenses, o entendimento da morte e o Dia de los Muertos no México, popularizado principalmente pelo filme Viva a Vida é uma Festa (Original:Coco) da Pixar. Na Noruega, por exemplo, o costume é parecido conosco aqui no Brasil, com cerimônias vinculadas, ou não, à crenças religiosas, mas sempre muito solenes.
Temos também o culto aos antepassados na forma e altares em diversas regiões do planeta. Lembrar daqueles que são importantes para nossa existência é algo recorrente durante todo o percurso da humanidade ao longo de milênios. Citando Margaret Mead, psicóloga e antropóloga estadunidense, que trouxe o entendimento de que nos constituímos como civilização a partir do momento que nos dedicamos à cuidar de nossos feridos e também enterrar nossos mortos conseguimos notar uma diferenciação significativa em relação às demais espécies, pois, mesmo que hoje tenhamos o entendimento de que os demais animais sentem, em algum grau, a ausência de seus pares, até o momento, somente nós, seres humanos, criamos rituais e procedimentos perante um falecimento.
Através de um artigo no Portal Comporte-se, Paula Grandi traz reflexões sobre as famosas 5 fases do luto a partir de uma perspectiva Behaviorista Radical. É prudente orientá-los a conferir o texto na íntegra, ao final do post.
O luto, a partir do ponto de vista Behaviorista, consiste em extinção operante, que ocorre quando, após vários comportamentos específicos que tem como objetivo obter reforçadores, esses reforçadores não ocorrem. O mais comum é o desejo de falar com aquele ente querido que falecera recentemente, mandando-lhe uma mensagem, ou cogitando fazer uma ligação, porém, não haverá resposta do outro lado. Muitos já passaram pela experiência, por exemplo, de perder um bichinho de estimação e, após sua perda, ainda procurá-lo nos cantinhos que ele costumava deitar-se, ora ou outra escutando o bater das patinhas no chão. O sentimento de carinho que era trocado na presença do bichinho não mais é possível, e por isso, também, sofremos.
Existem diversos outros sentimentos que podemos experienciar, em magnitudes diferentes, quando nos vemos frustrados pela ausência permanente daquele que amamos, o mais comum é a raiva advinda da frustração, mas, o que podemos fazer então, já que a pessoa amada não mais está entre nós?
Esta é a pergunta que prevalece.
Dentro da Análise do Comportamento, há direcionamento para ampliar a aquisição de repertório, ou seja, ampliar as opções de comportamentos que podem produzir respostas de terceiros, ou do ambiente, que sejam semelhantes àquelas das quais estamos privados. Sabemos que nossos amores não são substituíveis, mas o intuito é seguir em direção à novos amores, aproximar-se de pessoas da família que são importantes, estar com amigos queridos, ou mesmo interagir com bichinhos como aqueles que perdemos.
É imprescindível frisar que cada história de vida é única, assim como a dinâmica de suas interações, portanto, cada caso deve ser acompanhado de perto, respeitando sempre o processo de adaptação de cada indivíduo.
Finalizando com a fala de Paula Grandi:
" Como se sabe, pessoas diferentes, com histórias de vida diferentes e de reforçamento diferentes passarão por estas fases de formas, intensidade e até mesmo ordens diferentes."
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Referências:
As Enigmáticas Garrafas de Lágrimas - Wordpress Blog
As Fases do Luto - Portal Comporte-se
Tradições Funerárias da Noruega
Como Outras Culturas Lidam com a Morte
Enciclopédia de Antropologia - USP - Margaret Mead
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